A pessoa que você quer ser

Ela não é efusiva, nem diz a coisa mais inapropriada do mundo só porque pensou que poderia se dar ao luxo de ser engraçada e mesmo assim ninguém entende ou liga pra piada. 
Ela não perde tempo criando nada que possa ser comparado a auto-ajuda barata, mesmo que seja a coisa mais sincera a se criar. A se dizer.
Ela consegue enxergar as camadas mais profundas de significado em tudo.
Ela não ouve pop problemático e com certeza não justifica isso com um discurso tão vazio quanto “eu gosto e pronto”.
Ela não vive em uma espécie de adolescência tardia ou estendida porque ela sabe que isso é só uma forma de comercializar a imaturidade.
Ela não escreve poemas, leu todos os bons que tinha pra ler.
Ela não gosta de filmes bobos, viu todos os obscuros dificílimos de encontrar.
Ela não sabe nenhuma fofoca da Disney porque todos os amigos que tem são adultos como ela.
Ela não comemora ano novo de branco porque não acredita no poder revitalizador da forma como o tempo é marcado e por isso não acredita sequer em ano novo.
Ela não ri com seriados que tem risadas no fundo e nunca foi vista admitindo que amou um best seller e não usa um vocabulário muito categórico e reprova a construção de ícones e ídolos e ela está sempre vendo o outro lado mas ela não diz pra ninguém.
Ela não tem twitter porque relaciona isso com a teoria de algum filósofo do século retrasado que você não conhece porque nunca estudou Filosofia pra valer.
Ela não fala as bobagens que você fala.
Ela não escreve o clichê que você escreve sem perceber.
Ela não erra, não se engana, não formula frases gramaticalmente equivocadas. Ela não é mediana e nunca vai dizer que adora Harry Potter  e sabe ser blasé mas não é porque também repreende o blasé e não fala besteira e não fala e ninguém aponta o dedo pra ela e não é vista e de repente ela não está ali. Não fala até que quase não está ali. Já não está.