Nostalgic pavements

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Eu precisava muito encontrar uma pessoa. Alguém que eu não via há anos, nem por um relance num corredor qualquer. Daquelas pessoas com quem você convive por anos a fio, numa relação extremamente turbulenta. Até o dia em que você percebe que mudou, que cresceu, tem novos interesses. E aí vocês não têm mais nada a ver e simplesmente não se veem mais. Foi assim. Nem sequer pensei mais nela. Fui vivendo, conheci novos lugares e novas pessoas, achei que estava melhor do que jamais estivera. Também fiquei mal, tentei me reconstruir de diferentes maneiras. Respirei fundo, consegui. Depois de um tempo, percebi que finalmente estava bem de novo. E na primeira ameaça, lembrei dela.

Mas faz tanto tempo. Como você faz pra achar alguém que já não está ali há tanto tempo? Você precisa encontrar uma pessoa, mas não sabe como. Eu precisava encontrá-la, mas não fazia ideia de quem ela era mais. Então eu ouvi essa música. E ali estávamos nós duas. A apenas um espelho de distância.

Eu precisava encontrar comigo mesma. Numa época mais simples, menos confiante e tão confusa quanto. A gente tem dessas coisas, vai vivendo e mudando sem nem perceber. Ou percebe, e acha que jamais voltaria a ser aquela pessoa de antes, tão sem jeito, tão ingênua, tão sem saber o que fazer com as mãos e com as palavras. Quando criança, eu costumava ter o grande sonho de ser adolescente. Já na adolescência, tendo percebido que eu não tinha talento pra coisa, sonhei em ser a adulta incrível e bem resolvida que eu imaginava. Hoje eu sei que sou adulta porque a certidão de nascimento me garante, e já ouvi o suficiente que ninguém tem a menor ideia do que está fazendo, então tudo bem. Se ninguém sabe e está aí vivendo, acho que até estou indo bem.

Mas é preciso se achar de novo e de novo e de novo. Se às vezes você olha pro seu amigo e não o reconhece mais, imagina que perigo olhar no espelho e não saber quem está ali. Imagina olhar no espelho daqui a uns anos e não enxergar, nem em uma brecha, a pessoa que eu sou hoje. Hoje eu sou um mosaico incompleto, mas bem mais preenchido do que o que eu era há anos. Mas ela, aquela menina, ainda está aqui. Minha mente ainda repete de novo e de novo as mesmas falas. E o meu cérebro ainda me tira do sério. E eu tenho ainda mais opiniões e só talvez eu consiga explicá-las. Todas as pequenices cotidianas ainda continuam aqui, outras foram adicionadas. E enquanto eu tento ser melhor do que já fui, olho pra menina que cantava por aí que usa enxaguante bucal e espero que ela esteja minimamente orgulhosa. Eu ainda sou sem jeito, provavelmente também sou ingênua, mas já descobri o que fazer com as mãos. As palavras ainda ganham de mim, mas aprendi a gostar disso. Enfim, obrigada por aparecer. Foi bom te encontrar.

6 comentários sobre “Nostalgic pavements

  1. Miloquinha, você é uma pessoa incrível… E no pouco tempo que a gente se conhece eu só pude ter mais e mais certeza disso! Realmente acho perigoso um dia se olhar no espelho e não ter nem uma mera lembrança de quem um dia se foi, mas eu também imagino o que poderia causar isso… Por mais que eu mude – conscientemente ou não – ainda não consigo me desvencilhar do meu eu de tanto tempo atrás. De tantas coisas e pessoas que conheci você é uma das que mais me faz falta! Aproveito aqui pra fazer um draminha básico – porém sincero haha – e peço perdão se fiz alguma coisa que te magoou.

    Repito também que você é uma pessoa incrível, sendo criança, adolescente ou adulta. Sabendo o que fazer ou não com seu presente o resto da sua vida, você é brilhante e vai conquistar muita coisa ainda!

    Beijo Limes, amo tu! (;

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  2. Bibi, beu abor ❤
    Que texto lindo. A nossa vida vai mudando, a gente vai seguindo com ela e mudando junto, mas é importante lembrar de não se perder no meio do caminho. Realmente, chegar no meio da jornada, se olhar no espelho e não se reconhecer é muito triste. Ao mesmo tempo, é lindo ter vários espelhos espalhados por aí: no outro. Como é bom se reconhecer em si mesmo e em quem, aos poucos, vai se tornando um pouco nosso também.
    PIREI nesse comentário, mas acho que cê entendeu.
    Te amo! ❤

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  3. Acho que eu nunca passei por um momento assim, acho que até agora eu me olho no espelho e consigo ver ainda um pouquinho de o que eu era uns anos atrás, apesar de todas as mudanças.
    Mesmo com tanta transformação, acho que sempre fica um pouquinho do passado, só basta a gente achar 🙂
    E adorei que dona Miloca voltou!!!!!
    Beijo ❤

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  4. Sabe de uma coisa? Eu acho isso incrível! Claro, dá um medo do cão e um frio na barriga horrível, mas no fim é bom perceber que mudamos a ponto de não nos reconhecer mais no espelho, isso significa que podemos ser muitas coisas, coisas novas, coisas que não ficam estagnadas. E mesmo que a gente não se reconheça mais no espelho, dentro de nós as coisas que realmente importam, ainda estão lá. ❤
    Te amo! ❤

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  5. Quando eu era adolescente, uma professora que não tinha mais conteúdo para dar resolveu fazer uma brincadeira e pediu pra todo mundo escrever num bilhete o que a gente pediria se encontrasse um gênio dentro de uma lâmpada. Pediu que a gente escrevesse a nossa vontade mais obscura, no alto dos 13 anos. Meu paquera pediu pra “encontrar uma cidade” (ele queria ser arqueólogo? nem ideia), e eu pedi para “SER SEMPRE EU MESMA”. Sorte que era ~anônimo~ porque todo mundo deu uma GARGALHADA desse meu pedido absurdo. E, gente, por isso que somos amigas.

    De vez em quando ainda me encontro quando me vejo no espelho, mas de qualquer forma, acho que eu gostaria do rumo que minha vida tomou. Tenho certeza que a Mimizinha também!

    Beijoooo

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